Nos propomos à luz dos aportes teóricos descoloniais com foco no feminismo descolonial e da teoria do empoderamento, refletir e problematizar a participação e as transformações ocorridas na trajetória de vida das mulheres inseridas nas CEBs, da Paróquia São Sebastião, na cidade de Montes Claros, no Norte de Minas Gerais. A cidade de Montes Claros está situada na região central do Norte de Minas e possui uma população estimada em 404.804 habitantes. É a maior cidade da região, considerada a capital regional. As cidades vizinhas recorrem a esta no tocante à educação, à saúde, à política e à economia. O recorte histórico selecionado compreende as décadas de 1985 a 1995, período considerado de maior efervescência e disseminação de grupos na cidade.
As CEBs foram uma das práticas eclesiais do cristianismo católico mais expressivas do século XX. Elas figuraram no cenário nacional e se disseminaram por vários países da América Latina, entre as décadas de 1960, 1970, 1980. A emergência dessas comunidades não se pode atribuir a um evento fundador ou pessoa fundadora.
Essas comunidades exaltaram a representatividade da mulher na Igreja. Antes não havia representatividade da mulher dentro do espaço católico, se houve, talvez, estivesse subsumida na categoria homem. As CEBs enfatizaram a participação de mulheres e as promoveram como protagonistas em suas respectivas comunidades.
Sobre as CEBs no sertão Norte Mineiro, especialmente em Montes Claros, afirmamos que a partir do Concílio Vaticano II, a Igreja local avançou qualitativamente, o que permitiu anos mais tarde o estabelecimento dessas comunidades em seu interior. Este Concílio alcança o sertão norte mineiro por meio da figura do então bispo Dom José Alves Trindade (1912-2005), que pastoreou a diocese de Montes Claros durante os anos de 1956-1988.
As CEBs vivem, atualmente, um momento de descrédito e de recuo no cenário eclesial. Na visão do estudioso Josenildo F. de Lima (2012, p.76), “o fim da modernidade e o alvorecer da pós-modernidade puseram à baila problemas humanos de caráter mais existenciais que políticos”. Diante desse cenário estabelecido pela modernidade, as CEBs com suas ações no âmbito social, já não respondem aos problemas humanos que a modernidade trouxe. Dessa forma, as pessoas começam a buscar apoio em movimentos de cunho mais espiritualista. Nas academias, atualmente há ausência de pesquisas que enunciem as CEBs. Elas parecem não motivar os estudiosos como em outros tempos. Assim, por meio desta pesquisa buscamos resgatar as ações das CEBs e os impactos causados nas histórias de vida, nesse contexto, das mulheres que fizeram a experiência de participação nas comunidades.
Letícia Lopes Rocha- graduada em Ciências da Religião, pós-graduada em Neuropsicologia Educacional, mestra em Ciências da Religião. E-mail: lleticia81@yahoo.com.br